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Neste meu artigo de opinião, e as opiniões valem o que valem enquanto não se tornam certezas comprovadas por razões do ou dos “objectos? que as movem, tentarei centrar-me em conceitos que devem manter-se presentes nos criadores de canários, principalmente da raça Arlequim Português, independentemente do seu nível atingido ou experiência já alcançada.
Não há discriminadamente um leque de pontos ou linhas que avaliam um criador de aves, mas certamente os anos de experiência (e muita desta, vinda da correção de erros cometidos no passado), definem um criador com mais ou menos experiência.
A certeza absoluta é uma matéria que a própria Natureza Humana não consegue definir, e porque simplesmente o Espaço em que hoje vivemos será o Espaço de outros no futuro, bem como foi o Espaço e o Tempo de outros no passado!
O Planeta que nos permitiu e permite ter condições para que possamos viver (sobreviver) determina em muito a nossa evolução. Não o saberemos num Futuro longínquo…
Com o passar destes largos milhares de anos, também a espécie humana a par de muitas outras sofreu mutações, adaptações, morfologias. Entre outras, uma característica nos difere das melhores capacidades de todos os outros animais como nós, a capacidade de Pensar – mais ainda se for por nós próprios.
Quero com esta breve introdução contextualizar, o leitor, em algumas reflexões próprias que, certamente permitirão uma correção no caminho da defesa, e só disto se trata, do nosso tão querido Arlequim Português.
Há bibliografia e artigos em número que nos ajudam, e muito, a potenciar o conhecimento de conceitos que muitas dúvidas sobre o seu significado nos trazem. Realizar uma leitura atenta tornar-nos-emos mais uteis e ricos, se evoluir for o nosso objetivo. Há outros!
Em 2003, Long e Kittles lançam textos com definições biológicas de RAÇA. Mas então muito resumidamente o que é RAÇA? - Raça é um conceito que obedece a diversos parâmetros para classificar diferentes populações de uma mesma espécie biológica de acordo com suas
características genéticas ou fenotípicas. Daí vulgarmente dizerem que há várias raças de canários! - Alguns desses parâmetros/termos seguem abaixo descriminados, respectivamente:
Essencialismo por Hooton (1926) - "A raça é a grande divisão do género humano, caracterizado como grupo por partilhar uma certa combinação de características derivadas da sua descendência comum, mas que constituem um vago fundo físico, normalmente obscurecido pelas variações individuais e mais facilmente apreendido numa imagem composta."
População por Dobzhansky (1970) - "Raças são populações mendelianas geneticamente distintas. Não são populações individuais nem genótipos específicos, mas consistem em indivíduos que diferem geneticamente entre si."
Taxonomia por Mayr (1969) - "Raça é um agregado de populações fenotipicamente similares duma espécie, habitando uma subdivisão da área geográfica de distribuição da espécie e diferindo taxonomicamente de outras populações dessa espécie."
Linhagem por Templeton (1998) - "Uma subespécie (raça) é uma linhagem
evolucionariamente distinta dentro duma espécie. Esta definição requer que a subespécie seja geneticamente diferenciada devido a barreiras à troca de genes que persistiram durante longos períodos de tempo, ou seja, a subespécie deve ter uma continuidade histórica, para além da diferenciação genética observada."
Neste contexto é muito importante fazer-se nota que os grupos que normalmente não se cruzam, apesar de viverem na mesma área geográfica, não são raças, mas sim espécies diferentes. Os verdadeiros híbridos de espécies diferentes, como por exemplo, do canário fêmea com o pintassilgo, tendem a dar descendentes estéreis. Há teorias que apontam no sentido de o justificar pela tardia maturação sexual do individuo. (Deixo esse papel para os biólogos).
Centremo-nos, unicamente, na essência do Standard da RAÇA do Canário Arlequim Português:
A História ensina-nos aos bons costumes de aprendermos algo com ela, é essa a melhor lição que podemos tirar dela.
Relembrando uma frase do Presidente do Clube do Canário Arlequim Português (Armindo Tavares), num dos seus textos - “esta é uma raça que traduz na sua essência o povo português; um povo multifacetado, plurirracial, alegre, bem-disposto e de bem com a vida.?
Há também que relembrar e dar como referência à origem desta raça, sempre presente o nome Armando Moreno, Professor Doutor, e permitam-me assim, com todo o merecido respeito, pois sei que ele não é nada destes títulos honoríficos, mas sim do resultado final da capacidade que o Homem tem de fazer Obra.
Citando breve texto da sua Biografia - “Foi o autor que iniciou a selecção desta nova raça, em 1986, estando hoje divulgada no País e em todo o Mundo. É uma ave de extrema vivacidade, canto alegre, criando bem, rústica. Daí que cada ave é diferente no desenho a todas as outras. Existe uma forma com poupa e uma forma sem poupa. Todos estes dados são descritos no seu livro, além de outros elementos sobre esta ave, como o Standard, o modo de criação e acasalamento.?
Particularmente, este é o sentimento com que me revejo como criador de canários da Raça Arlequim Português, o meu Hobbie de predilecção, tendo como objetivo central o de obter Arlequim Português equilibradamente variegado, tentando assim caminhar cada vez mais próximo do Standard. Não deixa de ser verdade, que quanto à cor, beleza, distribuição de lipocromia ou melanina, há pássaros que nesta raça nos ficam debaixo de olho.
Tenho ainda um curto tempo de criação, diga-se umas duas dezenas de anos a criar não sei bem o quê, mas que eram canários lá isso eram, oito dos quais dedicados ao Canário Arlequim Português. Quero com este pequeno artigo, transmitir uma mensagem para compreendermos melhor os conceitos que acima refiro, que considero, serem oportunos, para olharmos com olhos de ver para o nosso Canário Arlequim Português.
Sem terminar, gostaria por último, colocar a minha aprendizagem e conhecimento sempre disponíveis àqueles que pretendam partilhar as suas experiências na criação do Arlequim Português.
Um abraço a todos os criadores, e dirigentes associativos voluntários dos corpos sociais de associações e clubes, que se dedicam a erguer cada vez mais alto a RAÇA do ARLEQUIM PORTUGUÊS.
Hugo Constantino, sócio 130 do Clube do Canário Arlequim Português
A dedicação dos criadores ao canário Arlequim Português e uma certa ansiedade em relação à beleza das aves tem conduzido, ao contrário do que seria desejável, a uma dispersão de linhas que saem da pureza original. A irrequieta inventiva tão própria do povo português tem dado origem a uma série de mutações que, se são louváveis pelo que representam de amor ao Arlequim, acabam por pôr em risco todo o trabalho já realizado. São vários os aspectos a considerar:
Em primeiro lugar não podemos deixar de ter em consideração que o Arlequim só foi aprovado há cerca de um ano, dando, por isso, os primeiros passos a nível de Concursos internacionais.
Por outro lado, a própria existência da raça é muito recente se comparada com outras raças. Significa isto que precisa de afirmação e de uma selecção apertada em torno do tipo que foi apresentado para aprovação pela COM, isto é, o pássaro original, sem mutações.
Em terceiro lugar temos de aceitar que Portugal é um País relativamente pequeno, com número limitado de criadores e que a dispersão de classes só vem enfraquecer a tipologia da raça.
Em quarto lugar, as questões levantadas, do ponto de vista legal em torno da aprovação de classes só estão claramente definidas a nível da COM, encontrando-se discrepâncias importantes no comportamento dos vários países quanto à aprovação de classes dentro dos canários de Porte, nomeadamente em relação à cor.
Acresce que a afirmação do Arlequim como raça bem definida, com todos os criadores empenhados em manter a pureza da raça aconselha a bom senso e uniformidade, pois é na união que reside a força.
Além destas razões, corre-se um risco quase insustentável ao abrir as portas a mutações: o número de cores nos canários é hoje quase ilimitado, acima de 100; se hoje se abrir ao castanho, ao opal, ao ágata, amanhã será ao topázio, ao ónix, ao satiné, ao feo, ao asa cinza ou outras cores que surjam. Onde estão, em Portugal, criadores que se dediquem, a sério, a tanta variedade?
Por último, deve ser referido que já aconteceu que a falta de precisão e definição segura de princípios levou a COM a anular uma raça que já estava aprovada e que, portanto, há que ter toda a prudência nas nossas decisões para que não venha a acontecer o mesmo ao Arlequim.
É certo que existem aves mutantes, sejam castanhas, ágatas ou opal muito belas mas a prudência aconselha a consolidarmos o Arlequim na sua pureza, pelo menos durante uma década. Depois deste trabalho realizado poderá rever-se o standard já com outros fundamentos.
Vamos, por isso, concentrar a nossa atenção no trabalho.
Prof. Dr. Armando Moreno
(Presidente Honorário do C.C.A.P.)
A vivência em Democracia baseia-se em dois requisitos: a liberdade de opinião e a existência de uma autoridade que tome decisões. Sem a primeira, não há possibilidade de melhorar, sem a segunda entra-se num caos que nada decide, nada resolve. Infelizmente, é que o que está a assistir-se um pouco por todo o lado.
Vem isto a propósito das opiniões que se ouvem sobre o Arlequim Português.
De todos os entendidos, criadores, curiosos, opinativos, surgem os que, à partida, por não gostarem da raça ou, (porque não dizê-lo?) por inveja de não terem sido capazes de fazer o mesmo, caem no ridículo da crítica inconsequente. Dizem mal por tudo e por nada quando deviam limitar-se a criar as raças de que gostam.
Noutro plano, respeitável e produtivo, situam-se os amantes do Arlequim que, mercê da sua experiência, gosto ou orientação, emitem opiniões mais ou menos justas e proveitosas e que, por minha parte, tenho considerado e ouvido com o respeito que merecem. Sempre, desde o início, ouvi estas opiniões, quer pessoalmente com cada criador, quer em simpósios, reuniões e colóquios. Sou um ouvidor atento, ou não fosse com amor que criei a raça. Com júbilo, sou convidado para emitir as minhas opiniões, sobretudo sobre propostas que fazem orientar a criação e o futuro do Arlequim.
Entre as opiniões mais importantes, algumas foram consideradas e a prova da busca de um critério justo está à vista nas pequenas mas importantes adaptações a que o standard foi sujeito.
Não podemos esquecer que tais opiniões podem ter origem na prática da criação, que é um mestre só por si; estas são as opiniões dos criadores. Podem ter origem nas Leis internacionais da COM e da OMJ, constituindo as opiniões dos Juízes e dos representantes de Portugal junto daqueles organismos. Podem, ainda, ter origem no ideal traçado no início da criação do Arlequim e de que me considero o principal responsável. Conclui-se daqui que as opiniões, por terem origens variadas, têm, forçosamente, de serem umas mais aceitáveis, outras menos. Mas todas elas devem ser seleccionadas tendo em vista o bem do nosso canário.
O conceito de que se quer resguardar o futuro é muito importante, desde que não se destrua o presente. Ora o Arlequim é uma raça muito recente, a necessitar de se afirmar tal qual é. Somos muito inventivos e não descansamos enquanto não alteramos o que está feito. Ora o Arlequim tem um estatuto, é uma ave lindíssima, criada com paixão por muitos portugueses e no estrangeiro.
Vem isto a propósito da intenção de criar sub-classes no Arlequim.
Os boletins de inscrição das várias raças de canários de Porte indicam Classes mas não sub-classes. Por outro lado, ninguém se encosta a uma parede pintada de fresco. Vamos, por isso, trabalhar no sentido de deixar secar a tinta, consolidando as características actuais do Arlequim.
Assim, já fui abordado para que o desenho da poupa fosse modificado para oval. Não posso concordar com esta opinião. O formato da poupa é uma das características importantes do nosso canário que o diferencia de outras raças, nomeadamente do Poupa Alemão. Siga-se o ensinamento dos criadores ingleses que pegaram no Poupa Alemão e, à custa de arredondarem a cabeça do consort, atingiram o volume e a forma do Crest e da Gloster. Por isso é que o standard do Arlequim Par exige uma cabeça fina à frente ligeiramente alargada atrás. É preciso trabalhar? Sem dúvida.
Outra opinião que me parece merecer reflexão é a criação de sub-classes relacionadas com a exigência de as aves se apresentarem equilibradamente variegadas. Claro que todos sabemos que, numa ninhada, podem surgir aves mais escuras e aves mais claras. Mas surgem também aves equilibradamente variegadas. O que fazer das que são claras ou escuras? A resposta é simples: o mesmo que os criadores de Glosteres, Yorkshires ou Crestes fazem à grande maioria dos seus pássaros. Em cada Concurso ou Campeonato, só há um campeão destas raças. É justo que um Arlequim equlibradamente variegado ganhe. Ora temos de obedecer a um standard, caso contrário, entramos na anarquia. É por este motivo que houve o cuidado de apresentar para aprovação da COM, no Mundial, só pássaros da linha clássica, embora haja Arlequins castanhos e ágata-opal. Evitou-se, com bom senso, a confusão. Nunca ouvi um criador português a querer que os Glosteres tivessem a poupa de outro formato ou que os Frisados deixassem de ter aletas. Só somos críticos para nós próprios.
Acresce que o número de pássaros claros ou pássaros escuros vai decrescendo à medida que são irradiados das criações. Os resultados imediatos não são bons conselheiros. Tenho insistido na importância de cultivar linhas de criação. Acreditem que, se não tenho trabalhado com base em linhas de criação, o Arlequim não existia.
Outros criadores têm colocado a questão do mosaico. É um assunto pertinente mas que só pode ser abordado para esclarecer os jovens criadores. Na verdade, se queremos uma ave com as cores bem distribuídas só pode ser mosaico. Isto porque não existe um canário que tenha o branco e o vermelho e que não seja mosaico. Está prevista a introdução desta palavra para elucidar os jovens criadores e deixarem de apresentar aves com fundo todo vermelho que, além de não terem as cores equilibradamente distribuídas, nunca apresentam a beleza de um Arlequim com o branco bem patente. Não podemos impedir os criadores de apresentarem tais aves mas lembro-me de um célebre criador que dizia que uma ave mal classificada não diz mal de si mas do criador.
Há também quem entenda que o variegado das patas e do bico é difícil de obter e devia ser retirado do standard. Não é exigido mas, perante duas aves, a que tiver estas características é merecedora de maior pontuação. Por último, já fui abordado por causa do tamanho. Ora o Arlequim, sendo um pássaro de Porte, elegante, quer-se também que seja vivo, saltando no poleiro, coisa que os pássaros de grande porte perdem, tornando-se tristes e pesadões.
Do que fica dito, se fôssemos a dar voz a todas as sugestões, o Arlequim seria modificado em todas as suas características: no tamanho, no formato da poupa, no variegado das patas e bico, no equilibrado da distribuição das cores, enfim, um pássaro completamente diferente. É caso para dizer: porque não dão origem a outra raça? É o mesmo que dizer a um homem alto, de cabelo louro que não deve ser assim, mas deve ser baixo e de cabelo preto.
Por isso, caros amigos criadores, vamos ao trabalho. Criem o Arlequim apurando a raça, tal como ele é, belo, harmonioso, alegre, bom cantor e bom criador. Foi por ser assim que os criadores gostaram dele e aderiram à sua criação e ouvimos falar dele com verdadeira paixão. E não podemos desiludir centenas de criadores para fazer a vontade a um, seja porque discorda do formato da poupa, das patas ou do desenho e harmonia das cores.
Acreditem, caros Amigos, que não foi com falta de senso que se conseguiu primeiro criar a raça e depois que ela fosse aprovada. Foi percorrido todo um caminho, com a ajuda dos criadores, por vezes duro, com muitas desilusões e alegrias.
Cá ficamos à espera de mais opiniões para serem pesadas, consideradas, ouvidas, tudo no sentido de confirmarmos para todo o Mundo que existe uma raça portuguesa de canários, com características únicas.
Prof. Dr. Armando Moreno
(Presidente Honorário do C.C.A.P.)
O Canário Arlequim Português está a postos. Elegante no poleiro, espera decidido a justiça da sua aprovação em Itália, a coroar décadas de trabalho e dedicação, na busca da beleza que atingiu.
Neste Ano Novo, vislumbra-se a réstia de alegria que irá receber a consagração final na Exponor no Campeonato Mundial de 2010. Envolvido pelo entusiasmo e mística única entre os canaricultores portugueses, viu-se protegido e acarinhado por criadores de todo o País que aguardam ansiosamente o resultado dos julgamentos deste Janeiro, a dar uma alegria ao sentimento de crise que se abateu sobre todos nós.
É espantoso como uma ave consegue irmanar tantos portugueses na mesma
alegria, como consegue por lado a lado os que antes se mostravam menos adeptos, como consegue criar o entusiasmo que ultrapassa o mero interesse
económico, que hoje deturpa e distorce de modo dramático o modo como as pessoas encaram a vida, transformando o prazer de amar em meia dúzia de euros. E aí estão os heróis desta conversão. Homens que vêm lutando quer pela criação do Arlequim, quer pela preocupação de estudar stams, apresentar as aves em Campeonatos, Nacionais e estrangeiros, pondo de lado os interesses pessoais, quantas vezes com sacrifício da sua própria vida profissional e pessoal. Todos sabemos quem são, representados pelo actual Presidente do Clube do Canário Arlequim Português.
Sempre atento, seguindo um plano previamente estabelecido, escolhendo
colaboradores entusiastas, resume em si a vitória desta equipa que vai levar
as aves ao Mundial.
A poucos dias do Juizo, vão com eles os nossos corações.
Boa sorte, Arlequim Português!
Prof. Dr. Armando Moreno
(Presidente Honorário do C.C.A.P.)
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